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Foto do escritorPaula Brandao

Matilde Sofia - Aula de dança


Eram quase cinco da tarde quando a amiga de Matilde Sofia encontrou com ela em frente a loja da esquina da rua onde ela morava. A tarde apresentava-se fresca e as duas estavam prontas para começarem a aula de dança, pois haviam matriculado dois dias antes na academia do bairro e ansiedade era o que definia ambas, que não podiam mais aguardar o início da nova experiência.


A academia estava cheia e a aula de dança começaria em breve. As duas chegaram cedo e precisaram esperar o fim da aula de localizada que ainda estava terminando. Aula finalizada e as duas se apresentaram para o professor de dança, um rapaz atlético e que parecia ter uns trinta e poucos anos.


Matilde Sofia sugeriu ficarem bem na frente do espelho, assim seria mais fácil copiar o professor e verificar, ao mesmo tempo, se estavam coordenando de acordo os movimentos.


A primeira música começou e o professor logo emplacou uma zumba. Quando as duas olharam para trás, perceberam que a turma estava já em total sintonia e todo mundo fazia os movimentos sem ter nem que ensaiar. Matilde Sofia logo começou a encarar o espelho e imitar a colega do lado e o professor. Quanto mais a música tocava, mais ela requebrava e conjugava os passos, porém totalmente fora do ritmo. Quando todos davam uma volta para a direita, lá ia ela para a esquerda, quando o passo era para frente, lá ia ela para a diagonal e quando era para requebrar sem sair do lugar, ela dava dois passos e trombava com o professor, que perdeu o passo três vezes por causa disso.


A amiga de Matilde Sofia não sabia se ria, se chorava ou se fugia. Porém, ao lado dela, estava uma senhora de meia idade que resolveu agarrar o braço dela e dançar em dupla. Quanto mais a amiga de Matilde Sofia tentava se desvencilhar da senhora, mais ela a puxava para perto, tentando exibir um estilo nado sincronizado com os braços, inclusive jogando o braço da amiga de Matilde Sofia para cima, em incentivo.


De repente, um barulho. Matilde Sofia tropeçou no próprio pé e caiu no chão, levando as pessoas a fazerem uma roda em volta dela, tentando adivinhar o que havia acontecido e se ela estava bem. Matilde Sofia, sem pestanejar e querendo demonstrar total falta de constrangimento, lembrou de um filme antigo que havia visto há uns dias antes e fez o seguinte: fechou os olhos, deitou no chão, abraçou as pernas, deu uma espécie de rodopio, que ninguém entendeu como ela conseguiu fazer aquilo, ajoelhou levando o corpo para trás, deu um impulso e levantou rapidamente, já saindo para a esquerda em um passo de dança totalmente desengonçado e atípico. A sala ficou pequena para ela, que protagonizou uma espécie de mistura de "Footloose" com "Os embalos de sábado a noite", com uma pitada de Fred Astaire. Quanto mais Matilde Sofia rodopiava, mais a senhora de meia idade puxava a amiga de Matilde Sofia, indo atrás da bailarina irreverente e gritando “essa aula está espetacular”.

O professor, por sua vez, encostou no espelho, ao som da música dançante, coçou a cabeça e olhou para a turma, com uma expressão facial que era indefinição pura.


Ninguém dava uma palavra, e Matilde Sofia bailava, o baile da esquisitice. Após alguns instantes, um problema aconteceu no áudio e a música pulou de um ritmo dançante para uma música de Yoga. O professor correu para tentar solucionar o caso, mas o sistema de áudio deu um “tiuti” e a música calma adentrou o ambiente cada vez mais.


Matilde Sofia não percebeu a mudança, pois estava tão concentrada que continuou a tentar os passos coreografados dos filmes. A senhora de meia idade notou a troca de ritmo, mas decidiu viver o momento e seguir Matilde Sofia com mais veemência ainda. A amiga de Matilde Sofia, finalmente conseguiu desvencilhar da senhora de meia idade e correu para o centro da sala, sentando no chão, acabada de cansaço.


O professor, enfim, após toda a confusão, tomou uma decisão. Foi para uma ponta da sala, posicionou em um passo de ballet e começou a dançar, dizendo que a aula era livre e que ele queria ver criatividade.


Os alunos olharam uns para os outros, ainda em estado de choque, porém soltaram o movimento. Quem passava de fora não entendia, ora alguém acertava o ritmo, ora não. Mas o fato foi que a notícia correu a academia da seguinte forma: uma aluna nova teria trazido da Europa um novo ritmo de dança. E como modismo era a bola da vez, uma fila se formou na porta da sala, com alunos tentando guardar lugar para o próximo horário, fora os que matricularam, instantaneamente, ao verem Matilde Sofia dançar. Palmas para o professor! Palmas para a senhora de meia idade e para a amiga de Matilde Sofia! E que venha a próxima dança!







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