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Foto do escritorPaula Brandao

Matilde Sofia - Dia das crianças


Essa história começa um dia antes cedo, mais precisamente entre o almoço e 5:00PM. Era dia das crianças e Matilde Sofia era apenas mais uma delas em seu interior. Comprou um pacote de balas e um de pirulitos, pois tinha combinado com a amiga e o amigo de levarem balas para algumas crianças da família e de amigos. Começou o dia acordando sua mãe, dando umas balas para ela, dizendo que em todo mundo tinha uma criança e que todo mundo devia chupar um pirulito naquele dia.

O fato foi que Matilde Sofia esqueceu que sua mãe havia convidado umas amigas para um chá também em comemoração ao dia das crianças. O acontecimento percorreu da seguinte forma: Clotilde chegou com a filha e os dois netos, trazendo um bolo de chocolate com coco e um tabuleiro de pamonha. Marcélia levou um tabuleiro de palha italiana e um pacote de pão de queijo. Cida contribuiu com cocadas e um prato de salgadinho de frango. Etinéia fritou pastéis e Marcela fez um bolo formigueiro com receita dobrada. Todas elas tinham netos e netos pequenos e Cida tinha uma filha temporona do segundo casamento. A menininha tinha cinco anos e duas marias chiquinhas de tranças que combinavam com as tranças de sua boneca de pano.

O lanche estava marcado para o fim da tarde mas, como boas amigas, todas chegaram antes disso e a cada de Matilde Sofia ficou lotada de crianças correndo para todos os lados. Matilde Sofia não sabia se pegava água para as crianças, se olhava o forno que assava mais pão de queijo, se corria atrás do neto de Clotilde que não parada de derrubar coisas ou se fugia para um lugar qualquer onde não tinha barulho de criança e nem músicas infantis, que foram selecionadas estrategicamente em uma compilação que agradasse os pequenos. O que se via era dança, zoeira e alegria na casa. Ninguém poderia jamais falar que a mãe de Matilde Sofia não gostava de crianças, pois essa era a data mais apreciada por ela e todo ano ela inventava um evento diferente. Lá por volta de cinco e pouca da tarde, a campainha tocou e Matilde Sofia quase surtou quando viu o seu amigo vestido de mágico, carregando um chapéu e uma mala um tanto quanto pesada. Ela perguntou o que ele estava fazendo ali vestido daquele jeito e ele disse que a mãe dela o havia contratado para fazer algumas mágicas para a garotada. Matilde Sofia, atônita não entendeu como isso iria acontecer, pois sabia do não talento do amigo. Foi quando, ao entrar ele anunciou “Senhoras e senhores, crianças e criançadas, chegou o seu mágico do coelho”. Matilde Sofia ficou intrigada porque se ele anunciou um coelho, teria que ter um coelho e ela não tinha visto nenhum por perto. Foi quando o amigo dela ajeitou as coisas em uma mesa de canto e apresentou Matilde Sofia como sua assistente. Foi um silêncio imediato. Todos olharam para ela, instantaneamente, esperando uma reação e empolgação e ela, sem saber de nada, ficou imóvel, com uma tigela de pipoca na mão olhando para o amigo. A mãe de Matilde Sofia fez um sinal para que ela se aproximasse do suposto mágico e ela, meio que desajeitada chegou perto dele. O mágico então começou os truques, colocando de truque em truque os apetrechos na mão de Matilde Sofia. Até pintou a cara de Matilde Sofia com umas garatujas para que ela ficasse parecendo assistente de mágico! Foi pano, objetos e tudo mais. O mágico colocou o chapéu em cima da mala aberta e tirava do chapéu, que não tinha fundo, coisas engraçadas sem sentido. Talento não era bem o seu forte, mas as crianças riam quando viram o espanador, a dentadura, o nariz de palhaço e uma cueca rasgada. Matilde Sofia permaneceu inerte, não conseguia nem rir, nem chorar e nem filosofar. A apresentação durou uns quarenta minutos, até que o mágico colocou tudo de volta na mala, pegou o chapéu, colocou na cabeça, tirando risadas porque não tinha fundo e foi embora. Matilde Sofia ficou na mesma posição até todos irem embora. Ninguém entendeu se ela estava feliz ou surpresa. A mãe dela despediu de todos, agradecendo a presença e vibrando de satisfação.

Após algum tempo as duas sentaram na mesa e Matilde Sofia só conseguia concordar, pois estava indignada com a cara borrada que o amigo tinha feito nela e que ela só percebeu ao olhar no espelho um tempo depois que todos já tinham ido embora.

A noite chegou, o pai de Matilde Sofia chegou do trabalho e riu da confusão total do dia, pois a casa uma bagunça só.

No dia seguinte Matilde Sofia acordou para ir cedo distribuir as balas. Era domingo e ela queria aproveitar bem a manhã. Ligou para o mágico amigo e ele já estava de pé, preparando a mala e o chapéu para mais um show.

O fato foi que as crianças comeram todas as balas no evento do dia anterior e o que sobrou foi um pirulito, dois bombons e uma palha italiana.

Resumo da ópera. Matilde Sofia voltou para a cama, pegou o coelhinho que havia ficado em sua casa, dispensou o amigo do serviço e agradeceu pelas crianças. E no seu diário escreveu: Como será que faço para tirar canetinha colorida do rosto?

E foi assim que Matilde Sofia andou pelo bairro durante quatro dias depois, recebendo elogios e risadas pela máscara engraçada que seu amigo tinha feito no rosto dela.

E quem não tem um pouco de criança?

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