Matilde Sofia - Lanche da tarde
- Paula Brandao
- 31 de ago. de 2020
- 4 min de leitura

Matilde Sofia tinha um amigo que era um cara interessante.
E assim começa a história do estereótipo humano em questão, em carne e osso, que quis fazer uma surpresa para sua querida e estimada amiga. Ninguém tinha coragem de falar muita coisa sobre o estilo do camarada e nem mencionar o fato de que ele era um sujeito um tanto quanto desajeitado, trépido e um “bocadito” peculiar em seu comportamento. Ele tinha tido uma quase namorada, que era a única pessoa, além de Matilde Sofia, a balbuciar uns comentários aqui e ali sobre ele, e de vez em quando. E quando terminaram o quase namoro, com ele foram-se os pequenos pontos de vista.
Matilde Sofia, como sempre, uma figura ímpar. Tinha suas manias e seu jeito de ser. Gostava do amigo. Ela o achava estranho, às vezes, mas fazia questão de mencionar, de tempos em tempos, suas qualidades. Rapaz simples, que falava pouco e que tinha lá o seu charme tímido. Eles se davam bem e quando encontravam, divertiam-se juntos. Era tudo sempre dentro dos conformes da amizade, até que um dia o amigo de Matilde Sofia resolveu fazer uma surpresa para ela, pois estava pensando em talvez arriscar um pré-namoro. Pediu para que ela tirasse a tarde de folga, colocou sua melhor indumentária e buscou a amiga logo após o almoço. Chegou em ponto no seu horário não compartilhado. Nem um minuto a mais, nem um a menos. Abriu a porta do carro (nesse momento Matilde Sofia arregalou cada olho, que até o cara mais concentrado perderia o rebolado da concentração), pediu para que ela adentrasse e foi em direção a...........nenhum lugar. Sim, rodou, rodou, rodou, enquanto o carro ia e vinha. E nada. Tudo por uma boa causa.
Após 3 horas e 46 minutos, Matilde Sofia, sem entender o momento, olhou para o sujeito, que já não tinha nem papo, quanto mais assunto, e perguntou o que eles estavam fazendo dentro daquele carro rodopiando a mesma lagoa mais de mil vezes. Com um pequeno ato de coragem, o amigo quase entregou o ouro para o bandido e disse que queria levá-la mais a sério com relação aos sentimentos humanos escondidos em sua coerência. Nesse momento, Matilde Sofia teve uma baita crise de riso, pois achou que o amigo estava brincando, e foi quando o coitado empacou o carro no meio da avenida. Não ia nem para frente, nem para trás e quem diria para o lado direito ou esquerdo. O fato é que, de tão avexado, mesmo sabendo do jeito da amiga e tendo a certeza que a crise de riso dela iria acontecer quando falasse, olhou para sua direita, após alguns minutos, e subiu com o carro repentinamente e zunindo em uma rampa, virou para a esquerda novamente e deu de cara com um prédio baixo de janelinhas, estacionando perto do passeio. O problema foi que, assim que parou o carro, abriu a porta e saiu correndo, como se estivesse preparando para uma maratona. O sujeito desembestou. Matilde Sofia ficou ali, não entendeu nada. Descia do carro, não descia. Ia atrás dele, não ia. Até que o amigo voltou e abriu a porta para a dama sair, co-mo-se-na-da-ti-ves-se-a-com-te-ci-do.
Passaram em frente ao prédio, ele todo atrapalhado, ela em crise de riso, até que sentaram em uma lanchonete próxima, com Matilde Sofia analisando os fatos e os abstratos, trocando uma palavra, vez ou outra com o amigo, que nessa altura do campeonato não sabia mais o que dizer. Mais algumas palavras e......pausa......Um silêncio interminável instalou-se entre os dois.
Não se viu o que houve ali, ninguém nunca soube e Matilde Sofia não quis comentar com nenhuma cúmplice de vida. Segredo absoluto, caso em sigilo, por precaução, falta de entendimento ou confusão de ambas as partes. O amigo de Matilde Sofia se manteve íntegro e discreto, como um verdadeiro Lorde em tempos de guerra.
O fato é que saíram algum tempo depois que adentraram, ele com a cara lavada e um meio sorriso no canto da boca. Indecifrável. Estilo Mona Lisa. Ela com os olhos arregalados. Surpresa, choque, quem dirá? Entraram de volta no carro, bateram as duas portas em som harmônico e se foram. Como se para fora da última página de um livro, onde as palavras não se alinham de maneira alguma.
Dizem as más línguas, que depois de certo tempo que estavam no recinto, alguém passou pelo lado de fora e, percebendo o silêncio entre os amigos, não pode deixar de gritar uma única frase em alto em bom som. Afirmaram, essas mesmas más línguas, que a única sentença de morte e de vida ecoou pelas paredes daquele lugar. “Olha o queijo!”.
Conclusão: qual queijo, ninguém soube. O que teve o queijo a ver com o momento, incógnita! Sobre a declaração, mistério. O amigo de Matilde Sofia, nunca explicou o fato e nem a corrida repentina.
Matilde Sofia simplesmente voltou para casa, feliz com a companhia do amigo.
E quem viver verá, talvez um dia, uma confirmação, explicação ou algum boato sobre o espaço ou sobre os dois. Ele, amigo. Ela Matilde Sofia. Uma coisa observou-se: a partir daquele dia, sempre que encontravam, comiam um pedaço de queijo.
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